quarta-feira, outubro 09, 2013

NÃO PARA A GORDOFOBIA!!


Olá meninas lindas da Ramep, bom dia.

Nosso encontro hoje celebra a reportagem de Julia Baptista, especial para o iG com o tema: "Gordofobia" na vida real.

A matéria propõe conhecer mulheres que enfrentam o mesmo drama vivido por Perséfone, a enfermeira discriminada por ser obesa em "Amor à Vida".

Vamos ver os detalhes.

Perséfone, personagem da atriz e comediante Fabiana Karla, começou sua história na novela global "Amor à Vida" com um objetivo básico: perder a virgindade. Na faixa dos 30 anos, Perséfone tem uma vida financeira e profissional estável: é enfermeira e mora em seu próprio apartamento. Mas, para manter-se bem relacionada socialmente e continuar buscando a felicidade no amor, Perséfone é obrigada a aturar piadas cada vez menos engraçadas -- e mais criticadas -- sobre seu peso.

Nas redes sociais, a discriminação tem até nome: “gordofobia”.

Segundo dados de 2009 do IBGE, 12,4% de homens e 16,9% de mulheres brasileiros sofrem de obesidade.

A obesidade é uma doença multifatorial caracterizada pelo excesso de gordura no corpo – 30% nas mulheres e 20% nos homens. Estes fatores podem ser genéticos, biológicos (alterações metabólicas), ambientais, evolutivos e comportamentais.

“Ainda que com menos intensidade do que se imagina, os fatores psicológicos ou psiquiátricos aparecem na maioria dos casos”, esclarece Adriano Segal, psiquiatra do Ambulatório de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e diretor do Departamento de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da obesidade e Síndrome Metabólica).

Sonia* é uma frequentadora do grupo de apoio Comedores Compulsivos Anônimos (CCA). Em reunião acompanhada pelo Delas, ela se levanta e conta que uma depressão profunda, depois que perdeu os pais, a fez engordar muito mais -- e em pouco tempo. O excesso de peso prejudicou todas as suas tentativas de conseguir emprego.

“Minha vida andou para trás”, ela diz.

Conta que um primo se mudou para a casa onde vivia com os pais e passou a agredi-la verbalmente. Em pouco tempo, a convivência tornou-se insuportável. Dentro de casa, era chamada de gorda, de inútil. Na rua, idem.

“Levei todos os meus problema para a comida”.

Endividou-se no cartão de crédito por conta de gastos com padaria e supermercado. A questão financeira virou uma bola de neve. Retornava à irmandade depois de dois anos afastada. Estava no limite.

“Sei que nasci com a estrela que não brilha, não casei nem tive filhos. Mas quero parar de sofrer”. Espera que, agora que conseguiu voltar a frequentar o grupo, as coisas comecem a mudar.

Uma pesquisa da empresa de recrutamento Catho Online com profissionais de alta gerência apontou que, dos 16 mil entrevistados, 59,1% admitiram ter algum tipo de objeção na hora de contratar funcionários obesos. E cada ponto a mais no Índice de Massa Corporal (IMC), que determina o equilíbrio entre peso e altura, representa R$ 92 a menos no salário em relação aos salários de colegas mais magros.

Julia Baptista

Simone tem 25, é modelo, sempre usou as roupas que quis, não tem qualquer problema de saúde – relacionado ao peso ou outro – faz exercícios físicos regularmente, drenagem linfática e cuida da alimentação. É linda, loira e de bem consigo mesma. Mas isso não a impediu de passar por situações discriminatórias.

Uma vez tentou ser Miss ABC. Como no regulamento não havia nenhuma restrição relacionada a medidas, tentou se inscrever no concurso, mas não conseguiu. Questionou a organização, não teve resposta. No ano seguinte, o regulamento foi modificado e uma série de informações sobre o manequim e as medidas máximas permitidas para os participantes foram incluídas.

Em outra situação, Simone teve de recorrer à policia e fazer um boletim de ocorrência. Entrou em uma loja para comprar uma blusa. “Não tem nada para você”, disparou, logo de cara, a vendedora. Pediu para falar com a gerente, que riu da sua situação. Simone não teve dúvidas, ‘catou’ um PM na rua, fez queixa e registrou um B.O.

“No mínimo, elas vão pensar duas vezes antes de fazer isso de novo com alguém”.

Apesar de pontuais, atitudes como a de Simone ajudam a desatar um pouco o nó da trama formada pelo preconceito e discriminação.

Preconceito em família

Tábata Vieira, atriz e promotora de eventos de 29 anos, não é uma comedora complusiva, como Sonia*. Seu problema são outros transtornos alimentares. Durante toda a adolescência, sofreu de ansiedade e anorexia. Aos 12 anos, começou a fazer qualquer dieta que aparecesse na frente.

“Eu tive um ‘estado’ magra, porém nunca soube que eu era magra, nunca me senti magra. Chegou aos 55 quilos, com 1,77 de altura. Ainda assim se sentia gorda".

Um dia, uma amiga, que ela considerava bem magra, experimentou e não coube em uma calça que Tábata vestia facilmente.

“A partir daí fiquei com medo de engordar e de emagrecer”.

Além de toda pressão interna, Tábata também sofreu com cobranças externas, principalmente em casa. Mesmo sendo de uma família com histórico de sobrepeso, a promotora de eventos enfrentou preconceito dentro da própria família.

“Meu pai sempre criticou muito a gente [Tábata e o irmão], não queria que fôssemos gordos. Me chamava de ‘sua gorda’ ”.

Quando emagreceu, no entanto, as provocações não desapareceram: apenas o tema da crítica mudou e passou a ser sua magreza exagerada.

Estigma

“O estigma e o preconceito aos quais indivíduos com excesso de peso são expostos são fortes fatores de estresse”, acrescenta Segal. “E isso vem acontecendo cada vez mais intensamente e em relação a pessoas cada vez menos obesas”, acrescenta.

Fatores de estresse podem desencadear quadros psiquiátricos variados, de acordo com a suscetibilidade individual. Estados depressivos, ansiosos, além de transtornos alimentares estão entre os mais frequentemente associados ao excesso de peso.

Autora de “Obesidade: o Peso da Exclusão” (EDIPUCRS, 2002), a professora da Fundação Universidade Federal das Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lúcia Marques Stenzel, explica a lógica da discriminação.

“Quanto mais rejeitamos a obesidade e idolatramos a magreza, mais produzimos problemas relacionados à alimentação, incluindo a própria obesidade”, diz. “O obeso, além de discriminado pela sua condição física, é cobrado para que ‘se transforme’, para que se adapte aos padrões estéticos”.
A cobrança pode vir inclusive dos amigos. É o que acontece com Perséfone: ao contar para a amiga (magra) que foi pedida em casamento, ouve de Patricia, vivida por Maria Casadevall: "quem sabe agora você se anima a fazer um regime".

Um beijão no coração de todas e até amanhã.

Ramep

Por

Iris de Queiroz

Projetos Sociais

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