Olá meninas, saúde para
vocês.
Nesta quinta feira nosso
assunto é um texto do site Delas por Chris Bertelli, iG São Paulo, onde se
aprende uma lição de vida de alguém que o câncer deixou devastada e a fez se
senti traída pela vida.
É verdade. Da dura lição
aprendida com o câncer de mama, Gilze Maria tirou a coragem para ajudar outras
mulheres com a doença.
Vejamos os detalhes.
Tudo começou com um sonho.
Sonho, não. Pesadelo. No início do ano 2000, Gilze Maria Costa Francisco
acordou sobressaltada depois de uma noite agitada.
“Levantei com uma sensação
de morte, de que alguma coisa estava errada. Logo pensei no meu marido e na
minha filha, e naquela mesma semana os dois fizeram uma bateria de exames, um
check-up completo”, relembra.
Os resultados mostraram
que pai e filha estavam com a saúde em dia, mas a notícia não a tranquilizou.
Aquela sensação ainda a perturbava.
Exatamente um mês depois,
em um domingo, ao assistir um programa que falava sobre o autoexame de mama,
ela teve um estalo. Entrou no banho, colocou as mãos sobre os seios e sentiu o
nódulo. Sua experiência como enfermeira e sua familiaridade com a anatomia do
próprio corpo não a deixaram ter dúvidas de qual seria o diagnóstico: câncer de
mama . De caráter firme, Gilze não chorou, nem se desesperou, mas procurou logo
o apoio da família.
“Sentei na sala e disse a
eles que estava com câncer , que havia sentido o nódulo”, conta. Os dois,
esperançosos, preferiam esperar uma definição médica. Gilze, no entanto, tinha
certeza.
Na manhã seguinte,
procurou um amigo mastologista e contou a história, do pesadelo ao autoexame. O
médico pediu uma mamografia, realizada na sequência, que confirmou a suspeita.
“Quando olhei a chapa, dei de cara com a doença”, relata.
“O câncer me deixou devastada.
Me senti traída pela vida. Sempre fui o porto seguro da família. Apesar de
obesa, sedentária, e de ter menstruado muito cedo, mesmo com todos esses
fatores de risco, me questionei: por que eu?”, recorda.
A pergunta, recorrente
entre quem recebe o diagnóstico, ecoou durante meses.
“Passei por todas as
fases: negação, raiva, barganha, depressão e finalmente a aceitação”. Neste
momento, a perspectiva de Gilze mudou.
“Entendi que não tinha
feito nada para merecer ser imune ao câncer e que não era uma questão de
merecimento ou culpa”, relata.
Sem rotina
Foi o início de uma grande
transformação interior e exterior e também da batalha pela vida, permeada por
sessões de quimioterapia e uma mastectomia agressiva que a deixou sem uma das
mamas, sem músculos peitorais e sem boa parte da axila.
“Havia apenas um buraco.
Minha pele grudava nas costelas, e olha que eu era gordinha na época.”
Olhar-se no espelho era
difícil e quase impossível reconhecer a figura refletida ali. Sem cílios, sem
cabelos, sem um dos seios e sem uma rotina que pudesse seguir, Gilze
descontruía a própria identidade.
“Estava me perdendo de
quem fui um dia. Não podia passar rímel, nem escovar os cabelos. Colocava a
peruca e achava estranho. Passava os dias em consultórios, clínicas de exame e
hospitais. Não queria encontrar pessoas, sair era doloroso e nunca me sentia à
vontade nas roupas”, diz. No mal-estar com o que vestia estava escondido o
receio constante de que notassem a ausência da mama.
"Não tem hora, não
tem distância, nao tem impedimento. Eu faço o que for preciso para
ajudá-las", relata
“As mulheres são alvejadas
num membro que nutre, embeleza e seduz. Somos flechadas no maior símbolo de
feminilidade. Então, quando perdemos o seio, sentimos a ausência de tudo isso,
é um luto de uma parte importante da mulher."
Para aplacar os sentimentos,
recorreu à família, especialmente ao marido, que se mostrou o companheiro
perfeito para todas as horas.
“Ele não tinha palavras
para me consolar e a minha dor era tão lancinante que ninguém podia alcançá-la.
Ele soube entender e só me dizia: ‘você já venceu.’”. Era o suficiente.
A filha, na época com 11
anos, preferiu o silêncio e o distanciamento. Foi preciso chamá-la para uma
conversa franca e emocionada.
“Coloquei-a no colo e
falamos de coração aberto. Ela me disse: ‘Mãe, você é tão forte que sei que
nada vai acontecer. Prometa que fará tudo direitinho porque não vou agüentar
ficar sem você”, lembra.
Dez meses e duas perucas
depois, no dia 28 de fevereiro, Gilze finalmente controlou o câncer. Faltava
ainda uma prótese que ocupasse o vazio deixado pela doença e também trabalhar
todas as emoções e sentimentos que afloraram e passaram a fazer parte da nova
pessoa que ela era. “Percebi que o melhor era viver os momentos ruins com
intensidade, mas os bons momentos com mais intensidade ainda”, afirma. “Aprendi
a conjugar os verbos reavaliar, readmitir, reaprender, rever."
Instituto
A inversão para o lado dos
pacientes fez com que a enfermeira pudesse sentir as dificuldades e agruras das
mulheres que travam uma luta contra um dos principais problemas de saúde
femininos. Na internet, Gilze encontrou notícias desencontradas, informações
incorretas e opiniões descabidas. Dessa busca, nasceu a decisão de construir um
site com informações seguras para quem, como ela, tinha a doença. A página
entrou no ar em março e era recheada de depoimentos dela própria, que escrevia
nas crises de insônia. “Passei muitas noites em claro. Tinha medo de dormir e
não acordar mais”, relata.
Centenas de emails lotavam
a caixa diariamente. Com algumas mulheres, ela passou a se corresponder com
frequência. Com outras, falava ao telefone. Gilze virou referência para quem
buscava um ombro amigo, uma informação, ou simplesmente alguém que entendesse o
momento delicado. O próximo passo, criar um espaço onde pudesse se dedicar a
essas mulheres, pareceu óbvio.
As campeãs de câncer de
mama
“As mulheres são as mais
desfavorecidas de ajuda. Porque elas passam a imagem de que podem tudo, fazem tudo,
são fortes ao extremo. Na hora que a doença bate na porta, ela sente o
desespero. E ainda assim, não quer que os filhos sofram, que o marido sofra.
Nesse momento, qualquer ajuda, por menor que seja, faz uma grande diferença”,
avalia.
Em fevereiro de 2002,
nascia o Instituto Neo Mama , em Santos, litoral paulista, com o intuito de
ajudar pessoas vitimadas pelo câncer e suas famílias. Com atendimento
interdisciplinar que inclui oncologista, ginecologista, mastologista, psicóloga
e nutricionista, hoje passam por lá cerca de 200 mulheres por mês, segundo a
conta da própria Gilze. No cadastro da entidade, no entanto, já são mais de
2.300.
“Elas chegam aqui e
percebem que não são as únicas a passar por isso. O diagnóstico é difícil de
encarar, mas com estrutura, exame, médico e colo e ombro fica mais fácil”,
acredita.
Para disponibilizar
mamografias, fez um acordo com laboratórios e exibe seus banners no site em
troca de exames gratuitos ( quantos mais cliques, mais exames. Participe da
campanha ). Para consultas, abre sua agenda de telefones que contém os números
dos principais mastologistas e hospitais do país.
“Eu ligo e peço o
atendimento. Às vezes consigo na insistência ou graças às boas relações que
tenho com os profissionais. É trabalhoso, mas faço com prazer”, orgulha-se.
Difícil mesmo são os casos
em que não há mais o que ser feito. Com lágrimas nos olhos, a coordenadora do
instituto diz receber até cinco mulheres nessas condições, em que o único
recurso é garantir amparo e dignidade. “Dói muito. A gente vê de perto a
evolução, ela vai minguando. A morte é muito palpável, você pode sentir a vida
indo embora. É difícil ver uma delas no caixão e não se enxergar ou não se
lembrar que há poucos dias ela estava fazendo bagunça”, chora.
Decote e praia
Não existem dados sobre
quantos mulheres têm acesso à reconstrução mamária no País. No entanto, Gilze
parece fazer parte da maioria que passa anos sem a cirurgia. Somente depois de
uma redução de estômago e de eliminar 65kg ela pode finalmente colocar uma
prótese. Foram 11 anos entre o aparecimento da doença e o novo seio. E sem
banhos de mar, passeios na praia, vestidos tomara-que-caia ou decotes. “O novo
peito é lindo, mas a cicatriz é para sempre."
A mudança no visual trouxe
ainda mais confiança e disposição para essa mulher de sorriso aberto, fala
franca e carinhosa.
"Acho que Deus me
preseervou para isso. Comigo, não tem hora, não tem distância, não tem
impedimento. Eu faço o que for preciso para ajudá-las. Tudo é
recompensador", diz ela.
"Depois do câncer,
você nunca mais é a mesma. A doença te marca como gado, no corpo e na alma. Mas
você sobrevive”.
As marcas ficam, mas a
felicidade volta
Beijão meninas e até
amanhã.
Ramep
Por
Iris de Queiroz
Projetos Sociais
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